NOVA PIRÂMIDE DE NECESSIDADES

NOVA PIRÂMIDE DE NECESSIDADES      Prof.Dr.Dado Schneider

“Exatamente... Do que é mesmo que a gente precisa ?” E... “Quais são as nossas necessidades, agora ?”... Pois, foi assim que voltei à sempre útil Pirâmide das Necessidades, de Abraham Maslow. Em pleno confinamento em função da pandemia, continuei o que sempre faço: a observar pessoas, a conversar com todo mundo, a perguntar sobre tudo a pessoas de TODAS as tribos, classes sociais, gêneros, idades etc. Viajando permanentemente pelo Brasil todo, esse é o meu maior prazer. E, assim, me mantenho atualizado – e de mente aberta.

Essa pandemia me fez pensar como nunca. E fiquei muito atento ao que todo mundo falava a respeito de “o novo normal”. Sobre isso, escrevi um artigo que está na minha lista do Linkedin – e rebatizei-o de “O Novo A-Normal”. Porque não há o que se dizer sobre o que era, o que foi, o que é e o que será... com o parâmetro da “normalidade”. Eu digo “A-Normal” é para marcar posição: está sendo e será... DIFERENTE. Portanto, é uma outra situação, inédita em 100 anos, e a partir da qual já surgiu uma “Nova Hierarquia de Necessidades”.

 Assim, decidi partir à formulação de uma Pirâmide diferente, uma vez que estamos vivenciando uma época completamente... diferente ! E esta minha versão de Pirâmide de Necessidades é fruto de muita pesquisa, muita reflexão, muito trabalho e, principalmente, de uma vontade imensa de continuar colaborando para a compreensão das Mudanças – como sempre o fiz em minhas palestras.

Resumindo, os dois primeiros degraus, “Cuidar-se” e “Adaptar-se”, tratam da sobrevivência. Já “Cooperar”, o terceiro, trata de manter-se – trabalhando. Depois, para se crescer, é necessário “Criar”. E, por fim, para dar um grande salto (pessoal e/ou profissional), é preciso “Voar”. Bem, vamos refletir mais...

Infelizmente, esta pandemia do Covid-19 está trazendo muito sofrimento, seja por falecimentos, seja por falências, seja por demissões... As vidas perdidas já não se podem recuperar. Mas todo o resto, de certa forma, sim, se cooperarmos uns com os outros. Somos a sociedade planetária inteira sendo afetada, não mais como em outros eventos históricos quando, por mais “mundial” que tenha sido uma grande guerra, ainda assim, ela se localizou em parte da Terra. Pois o que estamos passando em 2020 nos torna inéditos.

E já faz um bom tempo que venho sustentando que “Somos Adultos Inéditos”. Inicialmente, porque duraremos mais do que qualquer agrupamento humano de toda a História: trabalhar até os 100 anos de idade e morrer uma década depois não será mais surpreendente. E, também, por nos apresentarmos, para os historiadores do futuro, como aquelas pessoas que migraram, em bloco, para uma série incontável de novas ações a atividades que misturam o “online” com o presencial. Além da consolidação de um “viver+estudar+trabalhar” bem diferente.

Estamos, portanto, experimentando uma “desarrumação” generalizada em todo e qualquer segmento da atividade humana, por todo o planeta. E é justamente que, diante desta desarrumação, as necessidades de cada pessoa mudam. Pois eu me dediquei a observar como as necessidades do AGORA se misturam, se complementam e se sobrepõem, umas às outras, numa Aceleração de Velocidade de Mudança alucinante, quando nem um só dia é igual ao outro e, muito menos, previsível. Ou seja, a Pirâmide de Necessidades de hoje, em plena era do Covid-19, está ineditamente configurada, segundo e seguindo uma nova hierarquização.

Tratei de distribuir estas Novas Necessidades em 5 Níveis, nomeando cada uma com uma mistura de “Sentimento & Ação”. Paralelamente, a cada uma delas, corresponde um “Estágio”: então, por exemplo, o Nível 3 é “COOPERAR” – e o seu estágio correspondente é “MANTER-SE”. E, assim, crescentemente, cada Nível tem o seu Estágio, exceção aos dois primeiros Níveis, que dividem o mesmo, o inicial e o mais importante Estágio da Pirâmide, que é o de “Sobreviver”.

A Nova Pirâmide de Necessidades – Nível 1 – “CUIDAR-SE” :

Cuidar de si, cuidar dos outros, cuidar de quem está próximo, cuidar para que todos possam sobreviver: não existe nada mais humano do que isso. Envolve amor, respeito, consideração, empatia, aceitação, compaixão – e mais uma série infinita de sentimentos bons, que nos dão (ou deveriam nos dar) prazer em sentir e praticar. Pois na base desta Nova Pirâmide só poderia estar o CUIDAR-SE, uma vez que é uma situação inédita e globalmente distribuída. E me vem o exemplo do texto de todo voo: “primeiramente, coloque a máscara de ar em si mesmo, para só depois auxiliar as outras pessoas”.

Estamos falando de Sobreviver – e é exatamente nesse Estágio que o seu Nível mais elementar se encontra, pois nada é possível de se realizar por muito tempo sem que o ato contínuo de CUIDAR-SE seja vivenciado e praticado. Pois não se pode esquecer que a contundente experiência desta pandemia assemelha-se a uma maratona, apenas com uma pequena diferença: o maratonista sabe que a sua acaba em 42,2km – e nós estamos numa outra maratona, cuja distância e correspondente duração nós ainda não sabemos, mas já corremos muito ! Logo, se não nos cuidarmos, provavelmente, nos faltará gás...

Não estou querendo parecer um profeta do apocalipse (quem me conhece, me chama de “Poliana”), mas é que, hoje, mais do que nunca, é preciso que se tome cuidado com a saúde mental e física. Portanto, agora NÃO É o momento de se comer demais, beber demais, não se mexer (dentro de casa, mesmo), consumir muito noticiário tóxico e, muito menos, de brigar em redes sociais por qualquer que seja o motivo. E nem de ficar sem uma atividade, ficar sem contato com as outras pessoas ou ficar sem ter com o que se distrair e/ou pelo que se preocupar.

Precisamos estar inteiras/os/es para a nobre e difícil tarefa de Sobreviver. Além disso, mais do que nunca, precisamos estar assim para dar conta de cuidarmos de quem está próximo a nós, de quem depende nós para sobreviver e, por tabela, de quem depende dessas pessoas. Nunca a solidariedade foi tão posta à prova com tantas formas de se poder ajudar, mas, também, com tanta exposição. Sou adepto da ideia de que se deva “fazer o bem, não importando a quem”. E, assim, nos surge o Nível 2, “ADAPTAR-SE”.

A Nova Pirâmide de Necessidades – Nível 2 – “ADAPTAR-SE” :

Acredito piamente que somente quem se cuida é quem tem maiores chances em conseguir se adaptar. Em minhas palestras, eu sustento que “mudar não é necessariamente gostar do que está acontecendo: mudar é entender o que ocorre para se ver se consegue ACEITAR o que há”. Ou seja, quem se cuida pode se adaptar com menos dificuldade. APADTAR-SE não é se reinventar – outro termo muito falado, hoje. Dou meu exemplo: eu vivia de palestras presenciais e tive de me adaptar muito – mas não me transformei numa pequena empresa de logística ou em uma corretora de seguros online. Isso sim é que seria uma reinvenção.

Palestrar no formato online e, assim, continuar trabalhando, me sustentando (não ainda como antes) e estar “no mercado” é  a forma como consegui me adaptar à súbita e contundente mudança que sofreu o meu setor de atividade – assim como todos. E isso faz parte, assim como o Nível anterior, do Estágio que denominei “Sobreviver”. CUIDAR-SE para melhor ADAPTAR-SE: necessidades básicas e primordiais para quem precisa Sobreviver. Assim, vamos para o Nível seguinte.

A Nova Pirâmide de Necessidades – Nível 3 – “COOPERAR” :

Faz quase 20 anos que faço parte do Cooperativismo brasileiro. Tenho uma duradoura e profunda ligação com cooperativas por todo o país. Os princípios que norteiam o cooperativismo não podem ser mais modernos, mais atuais e mais necessários. Faço questão de compartilhar este conhecimento, pois é muito útil e facilita a compreensão de minha descrição deste Nível de Necessidade de minha Nova Pirâmide. São Princípios do Cooperativismo: 1) Adesão voluntária e livre; 2) Gestão democrática e livre; 3) Participação econômica dos membros; 4) Autonomia e Independência; 5) Educação, formação e informação; 6) Intercooperação; 7) Preocupação pela Comunidade. Nada mais atual e necessário!

Quando palestro, fazendo uma comparação entre o século XX (vertical, com a autoridade sendo exercida/imposta de cima para baixo e muito pouco ou nada democrática) e o século XXI (horizontal, com a autoridade sendo conquistada à base de exemplo), enfatizo que já nasceu a geração que vai mudar tudo isso que está aí: a Geração Z. Muitas pessoas que me assistiram nos últimos 15 anos, seguidamente, fazem referência a minhas previsões sobre “esta gente”, que agora vêm se materializando. Ora, eu pesquiso essa geração desde que nasceu !

Mas, deixando a análise do impacto da Geração Z no mundo para um próximo artigo, prefiro me concentrar no aspecto da horizontalidade de sua forma de pensar e agir para basear a explicação sobre este terceiro Nível, COOPERAR. Eu fiz questão de resgatar uma frase do século passado, que era usada de forma um tanto machista e vulgar, para simplificar minha explicação a respeito da maneira como a Geração Z já influenciou nossa maneira de conduzir todas coisas: “na horizontal, todo mundo é igual”. Trazida para o século XXI, ela clareia tudo.

Não se vive mais na época de olhar para quem quer que seja com ideias pré-concebidas e/ou históricos preconceitos que, infelizmente, ainda tentam, por vezes, ser exercidos, sejam de gênero, classe social, cor da pele, grau de escolaridade etc. Isso já acabou para a nova geração. E podemos aprender muito com eles para conseguirmos exercer, na plenitude, a Cooperação. Pois é cooperando com funcionários, colegas, fornecedores, clientes, sócios, parentes, vizinhos, professores, amigos e até mesmo, competidores/concorrentes (que sejam éticos e que ajudem a melhorar o segmento em que se atua) que se pode ir para a frente ! Gosto até do termo “coopetição” = cooperar com competidor(es).

E, se o Estágio imediatamente seguinte ao pós-Sobreviver é o de Manter-se, é somente se aprendendo a exercer a sincera e dedicada COOPERAÇÃO que se podem criar bases sólidas para a continuação de qualquer ação, empreendimento e/ou mudança que se consiga colocar em prática após se sobreviver. Pois, uma vez se conseguindo isso, manter-se, é hora de se pensar e se preparar para o Nível 4, que exige mais desprendimento, descondicionamento, coragem e iluminação.

A Nova Pirâmide de Necessidades – Nível 4 – “CRIAR” :

Sou professor universitário desde os 24 anos e leciono Criatividade desde então. Meu maior objetivo com toda pessoa que já participou de aula, curso ou palestra que já realizei sempre foi deixar claro que todo indivíduo nasce criativo e que é a vida que levou que pode deixá-lo mais ou menos produtivo criativamente. E é o nosso processo de educação que vai, pouco a pouco, nos tolhendo, nos “cortando as asinhas”, enfim, nos condicionando. Pois é este o segredo de tudo: o quanto que a pessoa está condicionada ou descondicionada. Assim, fica mais ou menos criativa. E isso também será tratado em um posterior novo artigo...

Voltando às Necessidades, “já tínhamos” sobrevivido (CUIDAR-SE para, depois, ADAPTAR-SE) e, também, nos mantido. Mas o ser humano é insaciável e o momento também é propício para que se pense em conquistar mais. Exatamente em períodos de crise é que surgem ótimas ideias. É no aperto que vem a solução, é na dificuladade que surge a iluminação. Pois nesta pandemia não tem sido muito diferente: rapidamente, imediatamente, começaram a pipocar ideias mirabolantes e, outras, bem simples. E isso é compreensível: muitas vezes, no período ainda de sobrevivência, surgem soluções que “estavam ali” e ninguém havia se dado conta.

O Nível 4 trata de se pensar em “Crescer”, pois, se já se passou pelo pior, que é, pela ordem, inicialmente, Sobreviver e, depois, Manter-se, por que não se pensar em avançar ? “Por que não?” é justamente a chave da criatividade. Por condicionamento, ao longo de nossa vida, vamos perdendo a capacidade inata das crianças de fazerem as coisas sem pré-julgamento, muitas vezes chegando a ideias incríveis justamente porque elas NÃO vivem se perguntando se o que estão pensando “é adequado ou não”... Ou seja, para se poder crescer, é preciso que se possa CRIAR algo – e, para se criar, é preciso se estar descondicionado como uma criança.

Então, se eu puder lhe ser útil, aqui vão algumas dicas, sejam para a sua Pessoa Física e/ou para a sua Pessoa Jurídica: 1) tente se distanciar do problema que há em seu trabalho ou sua atividade, pois, assim, é possível enxergar saídas; 2) mesmo que esteja em alguma situação de pressão, não é isso que pode tolher a sua capacidade de criar, mas, sim, o quão condicionado você está; 3) pratique o “por que não?” sistematicamente e tente contagiar quem está à sua volta com isso; 4) não dê bola para “frases assassinas”, como “já tentamos isso e não funciona”, “o ‘homem’ jamais aprovaria isso”, “você enlouqueceu?” etc

Parece simples... e o é ! Basta tentar. E, já que só falta o último Nível...

A Nova Pirâmide de Necessidades – Nível 5 – “VOAR” :

Nas minhas palestras, que eram presenciais e, hoje, migraram integralmente para o ambiente online, eu adoro fazer uma imagem que facilita explicar o choque entre épocas. Coloco os 2 antebraços na frente de meu corpo e mostro que o braço que está por cima é o século XX, que insiste em não permitir que o século XXI, representado pelo meu braço que está embaixo, decole. E explico isso mostrando que, incluindo os nascidos neste século, de certa forma, ainda somos regidos por muitas coisas do século passado.

Então pressiono o braço de baixo (o século XXI) com o braço de cima (o século XX), mostrando que existe uma tensão (uma fricção) entre valores e regras de diferentes épocas, visões de mundo, estruturas (relembro “vertical” versus “horizontal”) etc. E relembro a quem já me assistiu que, mesmo antes da pandemia, eu me mostrava tranquilo quanto ao nosso futuro – em médio e longo prazos.

No curto prazo (meia década ?), eu dizia, “ainda vamos passar alguns problemas, pois o século XX ainda não saiu de cima do século XXI, embora já estejamos na terceira década do século (e milênio!) que não nascemos. Vivemos a a ‘Adolescência do Futuro’, mas isso é uma questão de tempo: vai passar. É nesta década que passaremos a viver, finalmente, com as regras do século XXI, no que tange a trabalho, vida, relações etc. A agenda da nova geração, sem preconceitos, com inclusão, respeito à diversidade, compartilhadora por excelência e voltada à cooperação, onde menos é mais... não tarda !...”

Pois o que fez a pandemia ? Acelerou este processo. O que estamos vivendo é a despedida do século XX. Entramos, de forma traumática, no século XXI. Mas, se até o parto não deixa de ser traumático, o que estamos fazendo, todos nós, humanos, em todas as partes do planeta, senão nos adaptarmos da melhor forma possível ? Então, isso não é novidade para nós. Carregamos esta programação genética e vamos em frente, como sempre o fizeram nossos antepassados.

E, voltando à minha Nova Pirâmide de Necessidades, se já sobrevivemos, nos mantivemos e até conseguimos crescer, o que nos falta? A cereja do bolo: dar um salto. “Saltar!”, com ponto de exclamação, é o último Estágio correspondente a uma Necessidade. Esta, situada no topo da Pirâmide, apontando para o céu: é chegada a hora de “VOAR” ! Chegou a hora de sair de qualquer amarra, qualquer armário, qualquer algema e qualquer (auto)prisão ! Chegou a hora de se finalizarem ciclos, períodos de tempo, relacionamentos, negócios, parcerias etc.

“Não imagine que te quero mal; apenas não te quero mais” é o que diz a música de Lulu Santos e isso é a cara do século XXI: muito mais verdade do que “fachada”, muito mais essência do que aparência – bem a cara da Geração Z, com a qual aprendo há 2 décadas. (Aliás como é bom se chegar numa idade onde os nossos ídolos são mais jovens do que a gente !) Para finalizar, é preciso se ter muita Maturidade para isso tudo.

Bem, espero que este longo texto, uma parceria entre meu coração e meu cérebro, possa lhe ser útil de alguma forma. Se gostou, por favor, compartilhe. E... voe !